quinta-feira, 27 de junho de 2013

[já não tenho mão com que escreva nem lâmpada], de Herberto Helder

já não tenho mão com que escreva nem lâmpada,
pois se me fundiu a alma,
já nada em mim sabe quanto não sei
da noite atrás da luz: livros, frutas na mesa, o relógio
                                                           que mede
minha turva eternidade
e o tempo da terra monstruosa,
já nada tenho com que morrer depressa,
excepto
tanta hora somada a nada:
acautela a tua dor que se não torne académica

(in Servidões; ed. Assírio & Alvim, 2013)