sexta-feira, 26 de abril de 2013

Poema de Al Berto, retirado de um dos seus diários

lentamente,
a solidão pernoitou no lume
florido dos trópicos e
na luz de Lisboa enterraste os mortos
para melhor cuidar dos vivos e esquecer a guerra

os poemas adormeceram no desassossego do corpo e da alma
depois veio o movimento errante
da noite e da longínqua África assola-te a memória.
foi o regresso ao cais de Alcântara
com a vida toda cheia de buracos de balas
e de saudade.

(excerto de "Diário 1995-1997", in Diários; ed. Assírio & Alvim, 2012)