terça-feira, 9 de abril de 2013

Excerto de Ricardo Reis, para terminar a tarde

(Tenho dificuldade em entender como é possível confundir-se a escrita de Pessoa com o que não é Pessoa. Só muito excecionalmente encontramos uma banalidade na escrita pessoana - mesmo nos textos menores ou menos conseguidos que dele conhecemos, muitas vezes simples rascunhos e inacabados fragmentos, há sempre um claro e rigoroso domínio da língua e uma inteligente conceptualização. Encontro nesta estrofe de Ricardo Reis - um mero jogo de palavras? - aquilo que me fascina em Pessoa: o sublime da sua capacidade expressiva).

(...)
Não entardece que não morra o dia.
Não nasce amor ou fé em nós que não
        Morra com isso ao menos
        O não amar ou crer.
(...)

(estrofe retirada do poema "Cedo vem sempre, Cloe, o inverno, e a dor", in Poesia; ed. Assírio & Alvim)