e deu-te a morte que
vinha na semente,
e deitou-se sobre essa culpa,
e no fundo dessa rosa
colheu espinhos, mágoas,
e atravessou o animal deserto
que sufocava em ti
e nos teus dedos de papoila,
e amou-te tão
no seu cansaço vegetal. E dos dias
noites ela fez e não disse. Envelheceu
a amar-te tanto.
E levou-te a ver um mundo
onde tudo estava certo. E era certo
quando abria os braços
e tu subias ao coração da árvore.
Outras mulheres julgaram amar-te.
Mas só ela viu a cruz
que havia em ti, e só ela sabia dos
sinais, e só ela conhecia os teus
medos. Só ela, no seu silêncio
maior que todas as razões,
pressentia todos os teus segredos.
Com ela
não houve dívidas nem
contas.
(in Guarda-me contigo entre as papoilas; ed. Textiverso, 2014)
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