Que ao morrer um poeta
Sejam necessários cinco caixões
Como poucas vezes sucede
Que um poeta seja morada
Para que nele vivam,
Para que trabalhem à sua vontade
E durmam quando quiserem,
Sem pagar renda,
Sem ameaças do senhorio,
Outros 4 poetas.
Ao enterro de Pessoa
Foram com sigilo,
Tal como viveram.
Nunca protestaram
Contra a estreiteza da sua moradia,
Esse peculiar viver dentro da gabardina.
Mas não desejariam mais espaço
Agora, na rigidez das formas?
Não se viu Pessoa em tertúlia
Com os seus 4 fantasmas cardinais.
Não se viu em grupo
A caminho da tabacaria,
Partilhando viuvezes.
Pessoa e os seus compadres.
E essa forma
De não se deixarem ver nos espelhos.
(in Os Cinco Enterros de Pessoa; trad. Nuno Júdice, ed. Glaciar, 2014)
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