Quando tanto querer me desobriga
De querer-te, de querer-te, e tu te calas
Nesse jeito de outra vez ser rapariga?
Com que luz calma, amor, assim me embalas
E me cegas de paixão, amante, amiga,
De paixão, tal a escusa de esfolhá-las,
Rosas de inverno, ou só canção antiga?
Que o não saiba a noite que aí vem,
Pé ante pé como a sombra do caminho,
À hora em que ninguém vai a passar.
Que o não saiba eu, amor que a morte tem
Pressa, e arte de matar, devagarinho,
Quem ao partir, à noite, quer ficar.
(in Crescente Branco; ed. Campo das Letras, 2004)