Descobre, o casario, um céu de águas paradas.
Pelos estendais de lassas cordas nuas
Batem peças de roupa nas fachadas.
No interior dos pátios, vozes cruas
Agitam sombras mortas, assustadas,
De velhos, cães, crianças, gatos, luas,
Mal dormidos por saguões, desvãos, escadas.
Com o passar das horas, os mais decididos
Escalam a cidade, procuram, perdidos,
Que por benfeitoria não lhes falte sorte.
Queira Deus que a vida, ao balcão de um bar,
Num golpe de mestre os leve a escapar
À navalha de aço e, por engano, à morte.
(in Crescente Branco; ed. Campo das Letras, 2004)