o poema perfila-se, como um auditor de contas,
e obriga-nos a olhar o (pouco) que hoje fomos.
Nada representamos. Não damos lucro.
Os mercados ignoram a poesia
e os editores toleram-nos por enquanto,
como um luxo secreto ou fantasia.
Mas que fomos nós hoje, na verdade?
Que vimos, que experiências transformámos
em dura consciência, que coisas do dia-a-dia
convertemos no ouro puro da poesia?
(Nenhum deus nos poderá salvar, é certo,
mas também
ninguém nos liga nos mercados...)
(in A Misericórdia dos Mercados; ed. Assírio & Alvim, 2014)
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