o que dizer-te, apenas a reminiscência do teu útero
ou clepsidras encostadas a um domingo qualquer.
Observo fotografias como quem filtra o instante
que antecede a morte e conto histórias para não esquecer
que a vida é algo que se perde à medida que as palavras
se gastam em escrituras hieráticas que já não sabemos
decifrar. Imagino lírios a crescer sobre o calor fétido
do meu corpo em decomposição e crianças a brincar
por perto, sob as ramagens frondosas de árvores
antigas, sem saber que um pêndulo realiza um movimento
isócrono, sem saber que me doem mais estigmas
na memória que pústulas no corpo ou que mastiguei
o tempo como quem pacientemente espera a morte.
(in Melopeia)
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