terça-feira, 14 de outubro de 2008

Uns versos soltos + um poema de Mia Couto

(Gostei tanto deste livro, que é impossível deixá-lo passar em branco).

* * *

Estes quatro versos, se é permitido fazê-lo com
versos alheios, gostaria de os dedicar aos meus Amigos


(...)
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo

(versos de "Poema da despedida", in Raiz do Orvalho e Outros Poemas)

* * *

Pergunta-me

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousam a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltarei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
quem reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

(in Raiz do Orvalho e Outros Poemas)

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