O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão,
E a retiraste.
Senti ou não?
Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve...
Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há muita coisa
Incompreendida.
Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre meu braço
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?
Como se tu
Sem o querer
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério
Súbito e etéreo
Que nem soubesses
Que tinha ser.
Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.
Fernando Pessoa
(in Poesia, 1934-1935 e não datada)
(in Poesia, 1934-1935 e não datada)
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