O céu é azul, sem nuvens.
E no meu pensamento voa a cotovia.
O sol não nos abandonou durante todo o dia.
O sol faz de mim um homem como os outros.
Mas só desta vez,
porque da próxima serei menos que o último dos homens.
Afirmações de senso-comum transportam-nos
até ao verão que há dentro do inverno.
A alma, pobre prefiguração das coisas sem lume,
a alma depõe as enregeladas sombras
que a envolvem
e caminha no contentamento sucessivo das horas.
E desta vez direi para que se não regresse
a estes instantes que tudo encerram
para melhor se perderem:
foi disto que se fez o dia,
este primeiro dia na esquecida memória dos homens:
de uma passagem
para a outra margem do inverno, de uma passagem
para a solenidade do verão.
(in A Imprecisa Melancolia)
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