segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Balões", de Sylvia Plath

Desde o Natal que eles têm vivido connosco,
Simples e transparentes,
Ovais animais com alma,
A ocupar metade do espaço,
Movendo-se e roçando-se nas sedosas

E etéreas correntes de ar,
A guinarem e a rebentarem
Quando atacados, depois fugindo a toda a pressa para uma calma [ainda tremente.
Serviola amarela, chúmbea azul -
Tais são as estranhas luas com que vivemos,

Não com mobília fúnebre!
Tapetes de corda, paredes brancas
E estes viajantes
Globos de ar fino, vermelhos, verdes,
A encantar

O coração como desejos ou os livres
Pavões que abençoam
O chão antigo com uma das suas penas
Embutida no fundo de peças de metal luzente.
O teu irmão

Mais pequeno faz
O balão dele guinchar como um gato.
Parece estar a ver
Através dele um divertido mundo cor-de-rosa que talvez possa [comer,
Morde,

Depois senta-se
De novo, pote gordo
A admirar um mundo transparente como a água.
Um resto de vermelho
Esfarrapado na sua mão pequena.

(in Ariel, trad. Maria Fernanda Borges)

* * *

(Este é, para mim, um dos mais perturbadores poemas de Ariel, talvez por me parecer demasiado ingénuo ou inocente para caber em tal brutal - e potencialmente autobiográfica - obra... «Um resto de vermelho / Esfarrapado na sua mão pequena.»)

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