sexta-feira, 25 de julho de 2008

"Não existes", de Dane Zajc

Não existes na voz do vento, nem na desordem dos montes,
não existes na flor, se os pássaros chamam, não é a ti que chamam,
não existes na nudez da terra, nem no cheiro pesado das ervas,
e se semeias flores para cheirarem a ti, elas só vão cheirar a elas próprias,
se constróis um caminho, o caminho falará dele próprio,
se constróis uma casa e a enches de coisas caras,
vai ver-te um dia como um estranho
e as coisas vão falar-te de si próprias com a sua língua trocista.

É mentira que exista uma fonte para matar a minha sede,
e que exista um rio para te banhares no seu regaço frio.
É mentira que as coisas te vão consolar com uma memória calma
porque um dia todo o teu mundo se vai revoltar.


Um dia as coisas vão mudar de nome.
Então, a pedra será o ódio e o vento será o terror,
a rua será o pó, os pássaros cravarão na tua fronte
os pregos ardentes das suas vozes, o rio será o desespero,
as tuas coisas serão a tua culpa e os teus acusadores.
O mundo será destruído, o mundo não terá nome.

Então, tudo vai ter de ser-te indiferente. Estarás sentado num canto

[abandonado.
Fecharás os olhos para não veres nada. Sobretudo para não veres
a tua perdição na perdição do mundo morto.
Para não pensares que deves
fazer qualquer coisa, não pôr os pés em lado nenhum,
os pés que serão finos, finos como patas de aranha.
Só a tua cabeça será grande. A tua cabeça que florirá,
branca como a magnólia. Longamente procurarás na branca gruta da boca um
[nome para ti,

mas então será melhor que encontres um nome para o fim,
do que para uma continuação.

(in Treze Poetas Eslovenos)

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