terça-feira, 29 de julho de 2008

"Mon Père", de Kajetan Kovič

Mon père,
não sei porque te chamo assim,
não falavas francês,
mas isto provavelmente terias
entendido,
talvez eu to diga numa língua
estrangeira
por causa da distância,
conseguiríamos amar-nos
apenas assim:
não muito de perto.
Estávamos sentados
em velhas tabernas,
bebíamos um riesling
ou um šipon
ou, mais frequentemente,
qualquer vinho ácido,
falávamos
das coisas mais comuns.
A vida parava
por trás das portas,
a uma distância segura.
Parecia impetuosa de mais
para lhe dar um nome.
Tínhamos medo,
mon père,
das palavras fortes de mais.
Agora és apenas
uma foto na parede
e um túmulo num bonito cemitério.
Acendo-te uma lamparina,
trago-te flores.
Não a ti,
aos teus ossos.
Conto-te
tantas coisas.
E tu calado.
Apenas a tua lápide.
Com as datas.
De – a.
Meu Deus,
que coisas os filhos não dizem
hoje aos pais.
Aos vivos e aos mortos.
Mon père,
nenhum era
como tu.
Tão só,
tão meu,
tão pai,
perdido neste mundocomo eu.

(in Treze Poetas Eslovenos)

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