(Tropeçando na cultura. Ontem à noite, por motivo que não explano, passei pela Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão, e reparei que lá dentro circulavam várias pessoas; espreitei e constatei que estava prestes a iniciar-se um concerto e um recital de poesia; como tinha uma hora livre, entrei e sentei-me, o que me valeu este poema do Mário Cesariny).
eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha um pressentimento
tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros
entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada
depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou
ainda existe a extensa praia
e a grande casa amarela
aonde a rua desmaia
então ainda a noite e o ar
da mesma maneira aquela
com que te viam passar
e os carreiros sem fundo
azul e branca janela
onde pusemos o mundo
o cão atesta esta história
sentado no meio da estrada
mas de nós não há memória
dos lados não ficou nada
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