sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Abalo

(Poemas há que, apanhando-nos desprevenidos, nos fulminam, como que nos revelando aquilo que conservamos - quase inacessível - no recanto mais profundo de nós... Isto aconteceu ao autor destas linhas com os versos que se agora publicam: ao início desta madrugada, sussurrando as palavras, um tremendo abalo...)

* * *

Está tão próxima
a nascente
que os nossos lábios a perdem

Tão imediata é a luz
da sua água perene
que os nossos olhos se ofuscam

tão vazia e transparente
tão cúmplice do nosso espaço
que nela somos sem ver
que nela estamos sem estar

António Ramos Rosa
(in A Intacta Ferida)

Sem comentários: