segunda-feira, 14 de abril de 2014

"Para quê poetas em tempo de indigência?", de Luís Filipe Castro Mendes

Levantar a gola do casaco,
esconder os punhos da camisa já puídos
e defender, com os dentes cerrados, as palavras:
mas quem aguenta mais este murmúrio vão,
que não colhe mais as flores do mal nem a luz  radiosa na própria miséria?
Resistir, como sempre fizeram os humilhados.
Decorar palavras antigas.
Repeti-las, para que não sejam esquecidas,
aos vindouros.
(in A Misericórdia dos Mercados; ed. Assírio & Alvim, 2014)

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