quarta-feira, 11 de agosto de 2010

"Soneto amoroso", de Francisco Quevedo

__Pássaro mais sozinho, à dor atreito,
onde se viu, nem fera em monte ou prado?
Deserto estou de mim, abandonado
por minha alma, em lástima desfeito.
__Chorarei sempre meu maior proveito;
mágoas serão e fel o pão tragado;
a noite anseio, o repouso cuidado,
e duro campo de batalha o leito.
__Face da morte, o sono me perverte
e vence em mim a morte em aspereza,
pois que me impede o sumo bem de ver-te.
__Que tanto é teu fulgor, tua beleza:
se a Natureza assim pôde fazer-te,
milagres fazer pode a Natureza.

(in Antologia Poética)

Sem comentários: