passei a manhã e parte da tarde a observar-me no espelho. procurava um indício de morte sobre o rosto.
que minuciosa imperceptível tarefa teria ela iniciado durante a noite? nada visível por agora. nada se vislumbra na cor da pele, no movimento das pálpebras ou no húmido dos lábios.
doem-me as mãos. um vómito sobe. sinto-me demasiado fraco para suportar o meu próprio peso. se ao menos a morte me prevenisse que chegaria. bastava que me mostrasse um vertiginoso buraco na água, um diáfano sorriso de pássaros ou uma pedra flutuando.
seria fácil, arrumaria com tempo os papéis escrevinhados, redigiria com pompa e gozo as últimas vontades, deitaria fora tudo o que possuo e sentar-me-ia à espera. mentalmente escreveria o derradeiro poema: vem com tua mortalha de água, ó treva...
que minuciosa imperceptível tarefa teria ela iniciado durante a noite? nada visível por agora. nada se vislumbra na cor da pele, no movimento das pálpebras ou no húmido dos lábios.
doem-me as mãos. um vómito sobe. sinto-me demasiado fraco para suportar o meu próprio peso. se ao menos a morte me prevenisse que chegaria. bastava que me mostrasse um vertiginoso buraco na água, um diáfano sorriso de pássaros ou uma pedra flutuando.
seria fácil, arrumaria com tempo os papéis escrevinhados, redigiria com pompa e gozo as últimas vontades, deitaria fora tudo o que possuo e sentar-me-ia à espera. mentalmente escreveria o derradeiro poema: vem com tua mortalha de água, ó treva...
(excerto de "O Medo (II)", in O Medo)
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