com fotografias consolo a saudade do rapaz que fui, embora saiba que há muito se apagaram os sorrisos do teu rosto. envelhecemos separados, o eu das fotografias e o eu daquele que neste momento escreve. envelhecemos irremediavelmente, tenho pena, mas é tarde e estou cansado para as alegrias dum reencontro. não acredito na reconciliação, ainda menos no regresso ao sorriso que tenho nas fotografias. não estou aqui, nunca estive nelas. quase nada sei de mim.
* * *
pela janela, entre acácias e piteiras, vejo os barcos surgindo na bruma. o coração aéreo dos pássaros passa rente ao mar, e o mar põe-se a fulgurar, arde, cobre-se de plumas, levanta voo com os pássaros.
(excertos de "O Medo (I)", in O Medo)
Sem comentários:
Enviar um comentário