a morte está tão atenta à tua força contra ela,
enquanto ávido e acerbo cantas debaixo da água enviada,
¿acaso contes adormecê-la com a música turva?
quem se expõe à água ganha os poderes da nomeação mais simples,
apenas um duche, dizes,
há muito já alguém pediu o mesmo,
que ela recuasse,
ilhargas, ombros, dedos, o movimento dos cabelos,
o corpo solitário,
um canto último fundido ao início do canto,
mas a morte sabe que não há razão nunca,
e quem pede sabe que não pode,
teias de água fecham a tua grande nudez,
e dizes: um duche, apenas um inebriamento,
mas a morte não tem paciência para apurar um dialecto,
nada, só o arroubo táctil onde apoias a dor, desequilíbrio e medo,
enquanto falas do que nem ela entende,
agarrado à dura
dura
coluna de água
(in A faca não corta o fogo; ed. Assírio & Alvim, 2008)