O corpo amuralhado de granito,
Cabelo d'água, à névoa, ao vento, exposto,
Face esculpida em grito.
Braços de ferro, arqueados, desmedidos,
Sobre o fluir dos barcos e do barro.
E um rumor antigo
Na voz das tuas ruas e mercados.
Vestes de escuro e enfeitas-te de luzes
Antes do Sol perder seu oiro pálido.
E das torres com sinos e com cruzes
acenas ao mar largo.
Bulícios de cafés (há mais de mil)
Entornam-te nas veias graça e fogo.
E o lírico torpor dos teus jardins
Suspiros e repouso.
Que impulso de dizer-te pátria, Porto:
Coração não de Pedro, mas de pedra
Com sangue fértil, vinho generoso
A gerar alma e terra.
(in Ao Porto. Colectânea de Poesia sobre o Porto; ed. Dom Quixote, 2001)
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