domingo, 20 de novembro de 2011

"Tu que desgraçaste", de Czesław Miłosz

Tu que um homem humilde desgraçaste,
rindo-te da sua desgraça,
tu que cercado por um bando de palhaços,
o bem com o mal misturaste.

Embora, perante ti, todos se inclinassem
atribuindo-te virtude e sabedoria,
e medalhas de ouro em tua homenagem cunhassem,
contentes por terem vivido mais um dia.

Não estejas seguro. O poeta lembrar-se-á.
Podes matá-lo, outro nascerá.
Actos e conversas assentes por escrito ficarão.

Melhor te seria a alvorada invernosa,
a corda e o ramo curvado pelo peso.

(in Alguns gostam de poesia. Antologia; trad. Elżbieta Milewska e Sérgio das Neves; ed. Cavalo de Ferro, 2004)

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