(Hoje o poemapossivel não publica quaisquer versos, mas se o fizesse, seriam versos de amor. A razão? - mas será necessária uma razão para se divulgar um poema de amor? A título meramente hipotético, digamos que hoje (ainda que não mais do que nos outros dias) sentimos vontade de expressar (através do tal poema que não publicamos, mas que seguramente seria mui amoroso - e belo, muito belo...) o que sentimos. Mas que coisa?... E há a memória daqueles versos, tantas vezes citados, repetidos: "E quando ele entreabre os lábios para beijar...". Estas palavras, como esses versos que não publico (e que gostaria de ter escrito, sem que o talento chegue para tal), claro está, só podiam ser para ti - não hipoteticamente).
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Poema de Dora Ribeira
para ti
um beijo
pode durar
o tempo do mundo
quando
o silêncio
toma
sorrateiro
o seu lugar
e apaga o resto
(in O poeta não existe)
domingo, 14 de agosto de 2011
"Carícia divina", de Rosa Alice Branco
Cordeiro do Senhor nunca queiras escravo.
A hóstia branca que levamos à boca
é a mesma lua cheia que ilumina
o meu corpo a deslizar no teu.
Porque deus é amor e nós fiéis.
Porque nos fez com uma carícia
assim te acaricio e me cobres
de felicidade pela noite dentro.
Bendito seja quem assim ama.
Livrai-nos Senhor de todos os cordeiros
e dai-nos um ao outro cada dia.
A hóstia branca que levamos à boca
é a mesma lua cheia que ilumina
o meu corpo a deslizar no teu.
Porque deus é amor e nós fiéis.
Porque nos fez com uma carícia
assim te acaricio e me cobres
de felicidade pela noite dentro.
Bendito seja quem assim ama.
Livrai-nos Senhor de todos os cordeiros
e dai-nos um ao outro cada dia.
(in Gado do Senhor)
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Soneto IX, dos "35 Sonnets", de Fernando Pessoa
Oh to be idle loving idleness!
But I am idle all in hate of me;
Ever in action's dream, in the false stress
Of purposed action never act to be.
Like a fierce beast self-penned in a bait-lair,
My will to act binds with excess my action,
Not-acting coils the thought with raged despair,
And acting rage doth paint despair distraction.
Like someone sinking in a treacherous sand,
Each gesture to deliver sinks the more;
The struggle avails not, and to raise no hand,
Though hut more slowly useless, we've no power.
Hence live I the dead life each day doth bring,
Repurposed for next day's repurposing.
Oh ociosa e querida ociosidade!
Mas eu me odeio por este ócio inato;
Sempre em sonho a acção e nunca a verdade
Da pensada acção que não chega a acto.
Como animal em si armadilhado
Meu querer agir entrava a minha acção;
O não agir me enreda angustiado
E o furor de agir acaba em dispersão.
Como quem na areia vil afunda o ser
E a cada gesto solto mais se enterra,
A luta nada vale e o não mover
Mais lento torna o fim, sem outra via
Assim vivo já morto numa espera,
Num intento adiado que se adia.
But I am idle all in hate of me;
Ever in action's dream, in the false stress
Of purposed action never act to be.
Like a fierce beast self-penned in a bait-lair,
My will to act binds with excess my action,
Not-acting coils the thought with raged despair,
And acting rage doth paint despair distraction.
Like someone sinking in a treacherous sand,
Each gesture to deliver sinks the more;
The struggle avails not, and to raise no hand,
Though hut more slowly useless, we've no power.
Hence live I the dead life each day doth bring,
Repurposed for next day's repurposing.
* * *
Oh ociosa e querida ociosidade!
Mas eu me odeio por este ócio inato;
Sempre em sonho a acção e nunca a verdade
Da pensada acção que não chega a acto.
Como animal em si armadilhado
Meu querer agir entrava a minha acção;
O não agir me enreda angustiado
E o furor de agir acaba em dispersão.
Como quem na areia vil afunda o ser
E a cada gesto solto mais se enterra,
A luta nada vale e o não mover
Mais lento torna o fim, sem outra via
Assim vivo já morto numa espera,
Num intento adiado que se adia.
(in Poesia Inglesa, vol I; trad. Luísa Freire)
terça-feira, 9 de agosto de 2011
"Ofícios do mundo", de Rosa Alice Branco
Pias são as vacas
aspirando o chão com as manchas brancas
enquanto as negras erguem para o céu
um olhar bovino por cima da casa
onde o pasto secou há muito
no coração dos homens.
Só a vara lhes cabe na mão.
Ofício do mundo. Contar os minutos quilo a quilo.
Fazedores de carne, do livro de contas,
que contarão ao Senhor
no altar do sacrifício
que ele não saiba ou tenha sido?
No fim da noite bebem o vinho sagrado
de fato sombrio e rosto encoberto
pela lua. Cá fora trocam-se "mus":
mantras de amor sobre as estrelas.
Senhor, de quanta compaixão precisas
para apadrinhares o churrasco de domingo?
aspirando o chão com as manchas brancas
enquanto as negras erguem para o céu
um olhar bovino por cima da casa
onde o pasto secou há muito
no coração dos homens.
Só a vara lhes cabe na mão.
Ofício do mundo. Contar os minutos quilo a quilo.
Fazedores de carne, do livro de contas,
que contarão ao Senhor
no altar do sacrifício
que ele não saiba ou tenha sido?
No fim da noite bebem o vinho sagrado
de fato sombrio e rosto encoberto
pela lua. Cá fora trocam-se "mus":
mantras de amor sobre as estrelas.
Senhor, de quanta compaixão precisas
para apadrinhares o churrasco de domingo?
(in Gado do Senhor)
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
"como utilizar palavras frescas", de Dora Ribeiro
como utilizar palavras frescas
ou etc
enxugue primeiro as próprias mãos
depois
mergulhe as palavras do mundo
ou
em qualquer vestígio dele
quando puder
recupere as melhores
e as mais urgentes
em caso de incêndio
assuma a responsabilidade
ou etc
enxugue primeiro as próprias mãos
depois
mergulhe as palavras do mundo
ou
em qualquer vestígio dele
quando puder
recupere as melhores
e as mais urgentes
em caso de incêndio
assuma a responsabilidade
(in O poeta não existe)
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Mais um poema de Pedro Tamen
Se a história se repete
que história se repete?
Que fungo se intromete
em quem a lê ou sente?
Será a mesma gente
ou outra, mas doente?
Hoje, tantos do tal,
terá nascido o mal?
Assim, nada é fatal
mais que a fatalidade:
a negra tempestade
é tempo e tempo, idade.
que história se repete?
Que fungo se intromete
em quem a lê ou sente?
Será a mesma gente
ou outra, mas doente?
Hoje, tantos do tal,
terá nascido o mal?
Assim, nada é fatal
mais que a fatalidade:
a negra tempestade
é tempo e tempo, idade.
(in Retábulo das Matérias (1956-2001))
Subscrever:
Mensagens (Atom)