quinta-feira, 10 de março de 2011

"Sabia que existias", de Carlos Lopes Pires

Sim, sabia há muito que existias.
Sentia-o de manhã e à noite,
e pelo amanhecer,
mas era quando o silêncio e o vazio
vinham visitar-me ao entardecer
que mais nítidas eram essas notícias.

Coisas que a gente não sabe dizer ou definir,
que sabe serem redondas ou perfeitas
e nos visitam em lugares inesperados.

E no entanto sabia que existias.

Dizia-o o melro do telhado
no meio da cidade.
indiferente ao trânsito e ao ruído,
indiferente aos semáforos.

(in O livro dos cânticos (poemas de amor e ausência))

Sem comentários: