quarta-feira, 30 de março de 2011

(Circular)


Michael Nyman & Motion Trio interpretando "Miranda", em Trojka (2009)

terça-feira, 29 de março de 2011

Poema de Carlos Lopes Pires

quando as observo distantes
compreendo que já
tudo foi revelado às aves

que tudo sabem sobre
o abismo das asas e o ar

que as move

(in O Livro das Pequenas Orações)

segunda-feira, 28 de março de 2011

Versos de Lao Tzu

Não enchas a taça até transbordar.
É melhor que te detenhas antes.

Se afiares demasiado uma lâmina,
ele não durará muito tempo.

Se armazenares ouro em tua casa,
não conseguirás defendê-lo.

Se te vanglorias das riquezas e honrarias,
atrais sobre ti o infortúnio.

Quando o trabalho está terminado,
retira-te.

Esta a lei do céu.

(in Tao Te Ching. O livro do caminho e da sabedoria)

domingo, 27 de março de 2011

"Sombras", de Ana Paula Tavares

Tristezas os olhos
que não têm o brilho de contar,
estão riscados de sombras
como se o rasto dos caminhos
o longe da viagem
fosse, neles, deixando pistas.

Tristezas os olhos
de onde me olhas
detrás de um tempo passado,
o tempo das promessas antigas.

Teus olhos, amado,
são os olhos de alguém
que já morreu
e ainda não sabe.

(in Dizes-me coisas amargas como os frutos)

sábado, 26 de março de 2011

"Pulsação", de António Barahona

Perene é ser soneto: eis do futuro,
essa canção com oitocentos anos:
sábios, mil sons ecoam bons sopranos,
no timbre d’árias tensas de ouro puro.

Catorze versos a fundir degraus
(ligas de cobre e prata e elixir)
refeitos pra durar até que expire
seu último cantor, à flor do caos.

Perene é ser soneto, que reside
na cópia à rasa essencial do verbo:
tal como a roda, o cubo e o triângulo,

vem inscrito no código soberbo
de quem tece um casulo e sente livre
o sôpro do seu sangue num coágulo.

(in Resumo - a poesia em 2010)

sexta-feira, 25 de março de 2011

"Mais de uma vez", Carlos Lopes Pires

Chove. Mais de uma vez chove sobre os telhados.
E o vento vem, mais de uma vez vem,
e os mares e os barcos sobre os mares,
e os leitos dos rios enchem-se e mais de uma vez
se esvaziam e secam com o sol, e depois vem a chuva
e sol e sol. Adormece sobre a cadeira, a criança;
adormece um vez e outra.

Ao fundo o vento sopra entre as ervas, sopra;
no chão o amor acontece uma vez e outra,
mais de uma vez acontece.

(Só eu tenho uma vida apenas para te amar).

(in O livro dos cânticos (poemas de amor e ausência))

quinta-feira, 24 de março de 2011

"Portugal", de Alexandre O'Neill


Poema dito por Rui Spranger
("Um Poema por Semana", RTP)

"Tecidos", de Ana Paula Tavares

Meu corpo
é um tear vertical
onde deixaste cruzadas
as cores da tua vida: duas faixas um losango
marcas da peste.

Meu corpo
é uma floresta fechada
onde escolheste o caminho

Depois de te perderes
guardaste a chave e o provérbio.

(in Dizes-me coisas amargas como os frutos)

segunda-feira, 21 de março de 2011

(Dia Mundial da Poesia)

(Neste Dia Mundial da Poesia, o poemapossivel recomenda a obra "Resumo - a poesia 2010", antologia poética da responsabilidade de José Alberto Oliveira, José Tolentino Mendonça, Luís Miguel Queirós e Manuel de Freitas. Esta obra inclui poemas de mais de quarenta poetas nacionais, que constam em livros e revistas publicados no ano passado. A totalidade das receitas desta antologia - que tem um preço absolutamente convidativo - reverte a favor da AMI - Assistência Médica Internacional).

segunda-feira, 14 de março de 2011

quinta-feira, 10 de março de 2011

"Sabia que existias", de Carlos Lopes Pires

Sim, sabia há muito que existias.
Sentia-o de manhã e à noite,
e pelo amanhecer,
mas era quando o silêncio e o vazio
vinham visitar-me ao entardecer
que mais nítidas eram essas notícias.

Coisas que a gente não sabe dizer ou definir,
que sabe serem redondas ou perfeitas
e nos visitam em lugares inesperados.

E no entanto sabia que existias.

Dizia-o o melro do telhado
no meio da cidade.
indiferente ao trânsito e ao ruído,
indiferente aos semáforos.

(in O livro dos cânticos (poemas de amor e ausência))

quarta-feira, 9 de março de 2011

(Carlos Lopes Pires)

(Para o poeta, com imensa gratidão pela sua simpatia e partilha)

(Tendo entrado em contacto com o responsável por uma editora que já não existe - Editorial Diferença (o logótipo era um lince-ibérico) -, descobri um poeta com uma longa obra).

Obra poética:
A invenção do tempo e Outros Poemas (1993)
Falar às Aves (1993)
O livro de pó (1994)
O livro dos salmos (1994)
Viver (1995, 2.ª ed. rev. 1997)
O Caminho do País Lilás (1995)
O livro dos cânticos (1995)
A poeira dos dias (1996)
A Última Ceia (1996, 2.ª ed. rev. 1997)
O perfume da flor (1997)
A fuga das cidades (1997)
De immenso (1997)
Todas as estrelas do mundo / O amor tem tantos nomes (em co-autoria com Maria Rosa Colaço) (1997, 2.ª ed. 1998)
Alguém que tu conheces (1998)
Imensitude (1999)
O sinal de Jonas (1999)
Nove poemas da Bretanha / Poemas de Amor e Estremadura (ed. em português-francês, em co-autoria com Jean-Albert Guénégan) (2000)
Em cada um (2000)
Onde (2001)
As Estações de Deus (2002)
O Livro das Pequenas Orações (2008)
Te quiero (2011)

sábado, 5 de março de 2011

(Duas leituras)

(Em leitura, dois livros muito diferentes. "Os Cantos de Maldoror" (tradução de Manuel de Freitas), publicados no século XIX, transportam-nos a um universo de perversidade, malvadez e violência. A prosa poética de Lautréamont consegue ser intensa e fascinante, decadente e perigosa. O segundo livro é muito diferente: trata-se de relato em verso datado do século XII (tradução de José Domingos Morais) sobre a viagem de S. Brandão, em busca do Paraíso. Recomendações? Nem tanto - apenas uma nota de rodapé sobre duas leituras que muito prazer me estão a dar).

sexta-feira, 4 de março de 2011

"Nocturno", de Luísa Dacosta

Não há estrelas
nem lua.

Só o lume duma traineirinha
é pirilampo na noite.

(in A Maresia e o Sargaço dos Dias)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Outro poema de José Carlos González

Eram e foram e ainda são
Os humanos desejos e as vaidades

Eram e ainda erram os príncipes
Saídos do negrume __eles avançam

Torneios de florir lenços e rosas.

Pois somos homens no turbilhão dos astros.

(in No Alambique Escondido)

terça-feira, 1 de março de 2011

Poema (de livro emprestado) de José Carlos González


É dever sacro do fogo alastrar
Alar aos astros __falar
Em múltiplas línguas a origem
E sua própria consumação.

Ao homem é dever do fogo
Lavá-lo rubro aos metais
Moldar-lhe a mão rupestre
Até à mais branda penugem.

São do fogo e do homem conquistas
Os planaltos __sinais no deserto
E salvação no mar.

(in No Alambique Escondido)