Os versos fortes não têm currículo nem, dirá vossa excelência, passado. Não deixam, pois, pegadas, como as que as crianças e homens pesados deixam na areia. O verso pisa-te, sim, o coração, como se fosse o inverso de um ataque cardíaco, o simétrico bom do peso mau. Um verso forte não tem história como os países. Não tem invasões, reis assassinados, resistências, traições; e quatro adultérios de uma rainha da Idade Média. Um verso, hoje, não tem Idade Média dentro dele. Mesmo que seja um verso com dois mil anos, hoje, esse verso é absolutamente contemporâneo. Porque é verso. Um verso do senhor Homero lido hoje, dia sete, tem esta data, e currículo nenhum. Não tem Idade Média nem nenhuma outra.
(in O Senhor Breton e a entrevista)
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