A outra afasta-o.
Um mão recebe o falcão, tira uma luva,
A outra afugenta-o, pega numa tocha.
Uma mão escreve cartas de amor
Que a seua equívoca siamesa enche de injúrias.
Uma mão bendiz, a outra ameaça.
Uma desenha um cavalo,
A outra, um puma que o assusta.
Pinta um lago a mão direita:
Afoga-o num rio de tinta, a esquerda.
Uma mão desenha a palavra pássaro,
A outra escreve a sua jaula.
Há uma mão de luz que constrói escadas,
Uma sombra que solta degraus.
Mas chega a noite. Chega
Quando cansadas de se agredir,
Fazem trégua na sua guerra,
Porque procuram o teu corpo.
(in Os Cinco Enterros de Pessoa; trad. Nuno Júdice, ed. Glaciar, 2014)
Sem comentários:
Enviar um comentário