sábado, 29 de março de 2014

[Escolhi a terra para dormir], de António Ramos Rosa

Escolhi a terra para dormir
húmida vermelha dura
nunca formei uma palavra
nunca encontrei a saída

Estou vivo ou estarei morto
ou estarei mais além aberto
entre as constelações salubres
de uma gruta de veias vivas

Já sem andaimes o poema
dilacerado como um nervo
há-se acolher ao rés do solo
um ramo quebrado um formiga
a baba de um caracol

A palavra que nunca foi dita
não será flecha mas ferida feliz
entre os dois pólos do arco
que une o desejo ao silêncio da lua

(in Resumo - a poesia em 2013; ed. Documenta, 2014)

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