Quando descia a sua máscara de proa,
Convidava-a para um passeio na praia.
Muitas vezes
Levei a solidão aos bailes
Ou ao grande concílio de solidões
Que se agride nos estádios.
Para não a ver maltratada
Uma vez levei-a ao alfaiate
No meio de fatos vazios.
O costureiro
Com a boca cheia de alfinetes
Como um boneco vudu,
Desdobrou na sua mesa um pano negro.
Tirou as medidas à arisca solidão
E traçou a giz o seu molde.
Tinha a mesma medida da minha sombra.
(in Os Cinco Enterros de Pessoa; trad. Nuno Júdice, ed. Glaciar, 2014)