mais à mercê do escuro.
Provavelmente não poderei então
nem ler nem escrever nem cortejar
as flores silvestres, as nuvens em castelo,
os pardais disputando uma migalha
— esses frustes amores de fim de tempo.
Deixarei de poder distinguir
um abismo dum simples degrau.
Por isso, vós que sois de vidro quebradiço
como o meu próprio barro,
cuidai-vos em nome de mim.
Paguei-vos, sois meus, deveis-me utilidade.
Faça-se em vós segundo
a minha vontade.
(in Gaveta do Fundo; ed. Tinta da China, 2013)