segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"Limpa-vidros", de Abel Neves

entre nós e o que queremos dizer há um vidro
ou uma lente com as suas nódoas de humanidade    as dedadas
as marcas do frio    das saraivas    o pó
um verso mais ou menos limpo de imperfeições é
aquele que podemos ler depois de um trabalho com limpa-vidros

(in Telhados de Vidro; n.º 16, 2012)

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Poema VIII, do "Livro I", de Ricardo Reis

Temo, Lídia, o destino. Nada é certo.
Em qualquer hora pode suceder-nos
        O que nos tudo mude.
Fora do conhecido e estranho o passo
Que próprio damos. Graves numes guardam
        As lindas do que é uso.
Não somos deuses; cegos, receemos,
E a parca dada vida anteponhamos
        À novidade, abismo.

(in Poesia; ed. Assírio & Alvim)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"Promessa", de Maria Teresa Horta

Pouso no teu regaço
a minha mão
o meu verso

A saudade
e o seu espinho
a pena que eu disfarço

Prometendo-te
ao partir
voltar a ti no regresso

(in Poemas para Leonor; D. Quixote, 2012)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

"A minha ignorância", de Abel Neves

a minha fala traduz o que ignoro
que fazer?
espreito alguns versos
que me ajudaram a intuir os começos
a casa
e o rasto das aves
e deito-me sem saber onde buscar ciência
para tanta ignorância

(in Telhados de Vidro; n.º 16, 2012)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

"Sol", de Maria Teresa Horta

Querias ir ao Egipto
para olhares a História

Sonhavas com Bagdad
Constantinopla

A alma toldada pelo nevoeiro
quando em Londres
ao crepúsculo tu pensavas:

O sol de Portugal
está primeiro

(in Poemas para Leonor; D. Quixote, 2012)