Quero agora fazer um cantar de amor
à maneira provençal, para contar
aos marcianos quanto valem os teus
dedos nas refregas do amor, quando
todas as províncias do meu corpo
se rebelam contra fomes ancestrais.
Mas sinto que se prepara já outro
levantamento popular nas partes
baixas do país. Preciso de acudir
depressa à cama com lençóis lavados,
pôr o banho a correr, preparar tudo
para mais esta insurreição da carne.
Antes que chegues a casa e me
censures por não ter tomado ainda
as providências necessárias.
É lamentável - assim se vê a lírica
ultrapassada, uma vez mais,
pelas ardentes circunstâncias
da realidade. Aceitem os leitores
o meu sincero pedido de desculpas.
Ficará o cantar de amor à maneira
provençal para mais sóbria ocasião.
(in Resumo - a poesia em 2011; ed. Documenta, 2012)