(No dia do 123º aniversário de Fernando Pessoa, a Google incluiu uma imagem - a partir da pintura de Almada Negreiros - no seu motor de busca).
segunda-feira, 13 de junho de 2011
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Versos do "Tao te Ching"
Num mundo de acordo com o Tao,
os cavalos fornecem estrume para os campos.
Num mundo sem o Tao,
os cavalos de guerra vivem junto das cidades.
O maior erro é desejar sem fim
e não saber o que basta.
Grande erro é o desejo de acumular.
Assim, saber refrear-te
é ter sempre o bastante.
os cavalos fornecem estrume para os campos.
Num mundo sem o Tao,
os cavalos de guerra vivem junto das cidades.
O maior erro é desejar sem fim
e não saber o que basta.
Grande erro é o desejo de acumular.
Assim, saber refrear-te
é ter sempre o bastante.
(in Tao Te Ching. O livro do caminho e da sabedoria)
segunda-feira, 6 de junho de 2011
"Retrato", de Manuel Machado
Este é o meu rosto e esta é a minha alma. Lede:
São uns olhos de tédio e uma boca de sede...
O resto... Nada... Vida... Coisas... Já se sabe...
Tanta estroinice, paixonetas... Nada grave.
Um pouco de loucura, um grão de poesia,
uma gota do vinho da melancolia...
Vícios? Todos. Nenhum... Nunca joguei, - não minto:
não gozo quanto ganho nem o perdido sinto.
Bebo, pra não negar minha terra, Sevilha,
meia dúzia de copos, mas só de manzanilla.
As mulheres..., sem ser um D. João - sou sincero! -,
tenho uma que me quer e outra a quem eu quero.
Acuso-me de não amar senão só vagamente
uma porção de coisas que encantam toda a gente...
A agilidade, o tino, a graça e a destreza,
mais que a vontade, a força e a grandeza...
Minha elegância é buscada, rebuscada. Asseguro
que antes o chic e o toureiro que o helénico e puro.
Um lampejo de sol e um riso em seu momento
prefiro à lua com seu langor nevoento.
Meio cigano e meio parisino - diz o vulgo -,
com Montmartre e com a Macarena comungo...
E, antes que um tal poeta, meu desejo primeiro
era ter sido um bom bandarilheiro.
É tarde... Ando à pressa. E o meu riso rasgado
é alegre, e não nego que estou muito apressado.
São uns olhos de tédio e uma boca de sede...
O resto... Nada... Vida... Coisas... Já se sabe...
Tanta estroinice, paixonetas... Nada grave.
Um pouco de loucura, um grão de poesia,
uma gota do vinho da melancolia...
Vícios? Todos. Nenhum... Nunca joguei, - não minto:
não gozo quanto ganho nem o perdido sinto.
Bebo, pra não negar minha terra, Sevilha,
meia dúzia de copos, mas só de manzanilla.
As mulheres..., sem ser um D. João - sou sincero! -,
tenho uma que me quer e outra a quem eu quero.
Acuso-me de não amar senão só vagamente
uma porção de coisas que encantam toda a gente...
A agilidade, o tino, a graça e a destreza,
mais que a vontade, a força e a grandeza...
Minha elegância é buscada, rebuscada. Asseguro
que antes o chic e o toureiro que o helénico e puro.
Um lampejo de sol e um riso em seu momento
prefiro à lua com seu langor nevoento.
Meio cigano e meio parisino - diz o vulgo -,
com Montmartre e com a Macarena comungo...
E, antes que um tal poeta, meu desejo primeiro
era ter sido um bom bandarilheiro.
É tarde... Ando à pressa. E o meu riso rasgado
é alegre, e não nego que estou muito apressado.
(in Alguns Cantares; trad. José Bento)
sexta-feira, 3 de junho de 2011
"Adelfos", de Manuel Machado
Eu sou como essas gentes que à minha terra vieram
- sou da estirpe moura, velha amiga do Sol -,
que tudo o que ganharam tudo logo perderam.
Tenho a alma de nardo do árabe espanhol.
Morreu minha vontade numa noite de lua
em que era muito belo não pensar nem querer...
Meu ideal é deitar-me, sem ilusão nenhuma...
De quando em quando, um beijo e um nome de mulher.
Em minha alma, irmã da tarde, não há contornos...
e a rosa simbólica de meu único amor
é uma flor que nasce em terras ignoradas
e que não possui forma, nem aroma, nem cor.
Beijos, - mas não os dar! Glória... - a que me devem!
Que tudo como brisa comigo venha ter!
Que as ondas me tragam e as ondas me levem,
e que jamais me forcem o caminho a escolher!
Ambição!, não a tenho. Amor!, nunca o senti.
Jamais ardi em fogo de fé ou gratidão.
Um vago anseio de arte eu tive... mas perdi.
Não adoro a virtude, nem me seduz devassidão.
Alta aristocracia tenho afirmado em tudo.
Nunca se ganham, herdam-se, elegância e brasão...
Mas o lema da casa, divisa de meu escudo,
é uma vaga nuvem que eclipsa um sol vão.
Nada vos peço. Não vos amo nem odeio. Com deixar-me,
o que faço por vós por mim fazer podeis...
Que a vida se dê ao esforço de matar-me,
que não me dou por mim ao esforço de viver!...
Morreu minha vontade numa noite de lua
em que era muito belo não pensar nem querer...
De quando em quando um beijo, sem ilusão nenhuma.
O generoso beijo que não vou devolver!
- sou da estirpe moura, velha amiga do Sol -,
que tudo o que ganharam tudo logo perderam.
Tenho a alma de nardo do árabe espanhol.
Morreu minha vontade numa noite de lua
em que era muito belo não pensar nem querer...
Meu ideal é deitar-me, sem ilusão nenhuma...
De quando em quando, um beijo e um nome de mulher.
Em minha alma, irmã da tarde, não há contornos...
e a rosa simbólica de meu único amor
é uma flor que nasce em terras ignoradas
e que não possui forma, nem aroma, nem cor.
Beijos, - mas não os dar! Glória... - a que me devem!
Que tudo como brisa comigo venha ter!
Que as ondas me tragam e as ondas me levem,
e que jamais me forcem o caminho a escolher!
Ambição!, não a tenho. Amor!, nunca o senti.
Jamais ardi em fogo de fé ou gratidão.
Um vago anseio de arte eu tive... mas perdi.
Não adoro a virtude, nem me seduz devassidão.
Alta aristocracia tenho afirmado em tudo.
Nunca se ganham, herdam-se, elegância e brasão...
Mas o lema da casa, divisa de meu escudo,
é uma vaga nuvem que eclipsa um sol vão.
Nada vos peço. Não vos amo nem odeio. Com deixar-me,
o que faço por vós por mim fazer podeis...
Que a vida se dê ao esforço de matar-me,
que não me dou por mim ao esforço de viver!...
Morreu minha vontade numa noite de lua
em que era muito belo não pensar nem querer...
De quando em quando um beijo, sem ilusão nenhuma.
O generoso beijo que não vou devolver!
(in Alguns Cantares; trad. José Bento)
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