tag:blogger.com,1999:blog-41043913184717208022024-03-05T08:15:22.354+00:00poema possívelBlogue de poesiaUnknownnoreply@blogger.comBlogger946125tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-76674430425738888622018-03-07T13:07:00.001+00:002018-03-07T13:07:55.300+00:00"Nos Semáforos da Rua de Santa Catarina", de Jorge Sousa BragaAo menos os teus olhos<br />
permanecem verdes<br />
todo o ano<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <i>O Poeta Nu</i>; ed. Fenda, 1999)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-87970729974377954872018-03-07T13:06:00.001+00:002018-03-07T13:06:14.282+00:00"Poema de Amor", de Jorge Sousa BragaEsta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno<br />
e quase ia morrendo com o receio de que não te coubesse no dedo<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <i>O Poeta Nu</i>; ed. Fenda, 1999)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-87897124479542571222015-10-19T11:00:00.000+01:002015-10-19T11:00:04.883+01:00[Por muito que pense e pense], de Fernando Pessoa<br />
Por muito que pense e pense<br />No que nunca me disseste,<br />Teu silêncio não convence.<br />Faltaste quando vieste.<br />
<br /><br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Quadras e Canções de Beber</em>; ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-66444665103473398062015-10-18T17:21:00.000+01:002015-10-18T17:21:31.274+01:00Excerto do poema "A viagem", de Charles BaudelaireSaber amargo, o que extraímos da viagem!<br />
O mundo, tão monótono e pequeno, sempre,<br />
Ontem, hoje, amanhã, reflecte a nossa imagem:<br />
Um oásis de horror num deserto de tédio!<br />
<br />
É bom partir? ficar? Se podes ficar, fica;<br />
Parte, se for preciso. Um corre, o outro esconde-se<br />
Pra iludir o zeloso e funesto inimigo,<br />
O Tempo!<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(excerto de poema "A viagem", VII, in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-66999007565155248032015-10-12T12:50:00.000+01:002015-10-12T12:50:01.285+01:00"O cachimbo", de Charles BaudelaireSou o cachimbo de um autor;<br />
Vê-se, ao olhar prà minha cara,<br />
Como a de um abissínio ou cafre,<br />
Que o meu dono é bom fumador.<br />
<br />
Quando está repleto de dor<br />
Fumego como uma choupana<br />
Onde alguém cozinha e vai esperando<br />
O regresso do lavrador.<br />
<br />
Enlaço e embalo a sua alma<br />
Na movediça rede azul<br />
Que me sobe da boca em fogo<br />
<br />
E vou espalhando um forte bálsamo<br />
Que agrada ao coração e cura<br />
Todo o cansaço do seu espírito.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-65488715102516742112015-09-29T15:19:00.001+01:002015-09-29T15:22:07.841+01:00[Sempre construíste pensamentos], de Richard ZimlerSempre construíste pensamentos<br />
desde que nasceste:<br />
é tempo de os deixar cair.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
* * *</div>
<br />
You have juggled thoughts<br />
without pause since you were born:<br />
Time to let them fall.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>A Voz do Amor: 72 Haiku Cabalísticos / Love's Voice: 72 Kabbalistic Haiku</em>; ed. AL, 2015)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-45750723060579731062015-09-28T17:34:00.000+01:002015-09-28T17:34:40.551+01:00"Os mochos", de Charles BaudelaireSob alguns teixos que os abrigam<br />
Lá estão os mochos, enfileiram;<br />
Tal como os deuses estrangeiros,<br />
Dardejam o rubro olhar. Meditam.<br />
<br />
Sem se mexer lá ficarão<br />
Até à hora melancólica<br />
Em que, empurrando o oblíquo sol,<br />
As trevas se estabelecerão.<br />
<br />
Essa atitude ensina ao sábio<br />
Que neste mundo há que temer<br />
Todo o tumulto e movimento;<br />
<br />
O ébrio das sombras que passam<br />
Arrastará sempre o castigo<br />
De outro lugar ter pretendido.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-17492328308919878662015-09-24T10:58:00.003+01:002015-09-29T15:18:55.098+01:00[A tua alma começará], de Richard Zimler<div class="text_exposed_root text_exposed">
A tua alma começará<br />
a sentir a sua profundidade<br />
quando deixares de fugir do silêncio.</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed">
</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: center;">
* * *</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed">
</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed">
Your soul will begin<br />
to sense its depth when you stop<br />
running from silence.</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed">
</div>
<div class="text_exposed_show" style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;"> (in <em>A Voz do Amor: 72 Haiku Cabalísticos / Love's Voice: 72 Kabbalistic Haiku</em>; ed. AL, 2015)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-17851178835797444252015-09-21T12:44:00.002+01:002015-09-21T12:44:09.442+01:00(O primeiro livro de poesia de um romancista)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdlQvoeX4q_rXhZhjZxrLMBR1vad82RzCLG95eE_HZ0PheBn7hzL6QW7PjXyiYHsYO_7ftvxGYGwQnS1BSvDdiya2cqxlNEFVbGzYMwdmQ5PHXIMD29MaDLTrP-QZoN6fAx0cqV462JT8/s1600/72haiku.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdlQvoeX4q_rXhZhjZxrLMBR1vad82RzCLG95eE_HZ0PheBn7hzL6QW7PjXyiYHsYO_7ftvxGYGwQnS1BSvDdiya2cqxlNEFVbGzYMwdmQ5PHXIMD29MaDLTrP-QZoN6fAx0cqV462JT8/s400/72haiku.png" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
(<em>O poemapossivel agradece a gentileza de Richard Zimler pela oferta deste seu livro de estreia no domínio da Poesia. Folheadas sem rumo as páginas deste volume, já se vislumbraram alguns poemas que muito enriquecerão este vosso blogue</em>.)</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-28660835837356861252015-09-17T15:49:00.001+01:002015-09-17T15:49:51.423+01:00"Os gatos", de Charles BaudelaireOs férvidos amantes e os austeros sábios<br />
Na idade madura, ambos sabem amar<br />
Os gatos fortes, meigos, orgulho do lar,<br />
Que, tal como eles, são friorentos, sedentários.<br />
<br />
Amigos da volúpia e também da ciência,<br />
Procuram o horror das trevas, o silêncio;<br />
E tê-los-ia o Érebo por corcéis fúnebres<br />
Se um dia à servidão dobrassem o orgulho.<br />
<br />
Adoptam ao sonhar as nobres atitudes<br />
Das esfinges deitadas nos confins do mundo,<br />
Parecendo adormecer no seu sonho sem fim;<br />
<br />
Há mágicas centelhas nos seus rins fecundos<br />
E alguns farrapos de oiro, alguma areia fina,<br />
Estrelando vagamente as místicas pupilas.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-18015620448092488252015-09-14T17:49:00.000+01:002015-09-14T17:49:21.907+01:00[Teus olhos de quem não quer], de Fernando PessoaTeus olhos de quem não quer<br />
Procuram quem eu não sei.<br />
Se um dia o amor vier<br />
Olharás como eu olhei.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Quadras e Canções de Beber</em>; ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-72093068685483001882015-09-11T16:54:00.000+01:002015-09-11T16:54:21.395+01:00[Se há uma nuvem que passa], de Fernando PessoaSe há uma nuvem que passa<br />
Passa uma sombra também.<br />
Ninguém diga que é desgraça<br />
Não ter o que se não tem.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Quadras e Canções de Beber</em>; ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-65437848221576236892015-09-10T11:00:00.000+01:002015-09-22T16:39:23.371+01:00[Todos os dias que passam], de Fernando PessoaTodos os dias que passam<br />
Sem passares por aqui<br />
São dias em que só passa<br />
O estar a esperar-te a ti.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Quadras e Canções de Beber</em>; ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-45141544029758489372015-09-09T10:53:00.000+01:002015-09-09T10:53:00.636+01:00"O morto prazenteiro", de Charles BaudelaireOnde haja caracóis, numa terra fecunda<br />Onde estenda à vontade o meu velho esqueleto,<br />Desejo eu mesmo abrir uma cova profunda<br />E como um tubarão dormir no esquecimento.<br />
<br />
Odeio os mausoléus, odeio os testamentos,<br />E em vez de suplicar as lágrimas do mundo,<br />Preferia convidar os corvos lazarentos<br />A sangrar cada naco da carcaça imunda.<br />
<br />
Sem ouvidos nem olhos, vermes! companheiros,<br />Vede a ir ter convosco um morto prazenteiro;<br />Filhos da podridão, filósofos da estúrdia,<br />
<br />
Sobre as minhas ruínas ide sem remorsos<br />E dizei se ainda existem algumas torturas<br />Prò meu corpo sem alma e bem morto entre os mortos!<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-91779955365589366542015-09-07T10:30:00.000+01:002015-09-07T10:30:00.518+01:00[Todas as coisas que dizes], de Fernando PessoaTodas as coisas que dizes<br />
Afinal não são verdade.<br />
Mas, se nos fazem felizes,<br />
Isso é a felicidade...<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Quadras e Canções de Beber</em>; ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-81738445912899727632015-09-05T10:00:00.000+01:002015-09-05T10:00:00.260+01:00[Estava eu numa noite com uma atroz judia], de Charles BaudelaireEstava eu numa noite com uma atroz judia,<br />Como ao pé de um cadáver um outro estendido,<br />E então pus-me a pensar, junto ao corpo vendido,<br />Nessa triste beleza de que eu prescindia.<br />
<br />
E logo lhe evoquei a inata majestade,<br />A graça do olhar tão cheio de vigor,<br />Os cabelos, parecendo um elmo perfumado,<br />Cuja recordação me desperta o amor.<br />
<br />
Pois com fervor teria beijado o teu corpo<br />Desde os viçosos pés até às tranças negras,<br />Pra te mostrar o cofre das maiores carícias,<br />
<br />
Se uma noite num choro espontâneo, sem esforço,<br />Ó rainha cruel! conseguisses ao menos<br />Turvar o resplendor dessas frias pupilas.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-88626799421968291372015-09-04T13:13:00.000+01:002015-09-04T13:13:01.793+01:00"Parábola das mãos", de Juan Manuel RocaEsta mão pega num fruto,<br />
A outra afasta-o.<br />
Um mão recebe o falcão, tira uma luva,<br />
A outra afugenta-o, pega numa tocha.<br />
Uma mão escreve cartas de amor<br />
Que a seua equívoca siamesa enche de injúrias.<br />
Uma mão bendiz, a outra ameaça.<br />
Uma desenha um cavalo,<br />
A outra, um puma que o assusta.<br />
Pinta um lago a mão direita:<br />
Afoga-o num rio de tinta, a esquerda.<br />
Uma mão desenha a palavra pássaro,<br />
A outra escreve a sua jaula.<br />
Há uma mão de luz que constrói escadas,<br />
Uma sombra que solta degraus.<br />
Mas chega a noite. Chega<br />
Quando cansadas de se agredir,<br />
Fazem trégua na sua guerra,<br />
Porque procuram o teu corpo. <br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <i>Os Cinco Enterros de Pessoa</i>; trad. Nuno Júdice, ed. Glaciar, 2014)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-76106601213636502702015-09-04T12:32:00.002+01:002015-09-04T12:32:24.690+01:00[As verdades são mentiras], de Fernando PessoaAs verdades são mentiras<br />
Porque é gente quem as diz<br />
As tristezas - se m'as tiras,<br />
Como é que hei-de ser feliz?<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Quadras e Canções de Beber</em>; ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-39942272060834199942015-08-29T10:15:00.000+01:002015-08-29T10:15:00.548+01:00"Sed non satiata", de Charles BaudelaireEstranha deusa, morena como são as noites,<br />Com perfumes de almíscar e tabaco havano,<br />Talvez obra de um mago, um Fausto da savana,<br />Bruxa de ébano ou filha de vis meias-noites,<br />
<br />
Prefiro, em vez de todos os vinhos e do ópio,<br />O elixir dessa boca onde se pavoneia<br />O amor; quando pra ti partem os meus desejos<br />Teus olhos são cisterna onde os tédios afogo.<br />
<br />
Por esses olhos negros respira a tua alma,<br />Ó demônio sem dó! a tua chama acalma!<br />Que eu não posso abraçar-te nove vezes, qual Estige,<br />
<br />
Nem consigo, ai de mim! Megera libertina,<br />Pra ti quebrar a força e acabar contigo<br />No teu leito infernal tornar-me Prosérpina!<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-36424665807614956632015-08-28T10:01:00.000+01:002015-08-28T10:01:42.223+01:00"O inimigo", de Charles BaudelaireFoi medonha tormenta a minha mocidade,<br />Aqui e além cortada por brilhantes sóis;<br />A chuva e os trovões fizeram tais estragos<br />Que poucos frutos rubros no jardim me sobram.<br />
<br />
E eis-me já em pleno Outono das ideias,<br />Quando é preciso usar os ancinhos e a pá<br />Pra arranjar outra vez a terra, após a cheia,<br />Onde a água escavou, quais tumbas, grandes valas.<br />
<br />
E quem sabe se as flores que eu sonho, renovadas,<br />Poderão encontrar nessa areia lavada<br />O místico alimento que lhes dê vigor?<br />
<br />
- Ó dor! Ó minha dor! O Tempo engole a vida,<br />E o que nos rói o peito, esse obscuro Inimigo,<br />Com o sangue que perdemos cresce e ganha força!<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-60343891568097107842015-08-25T10:20:00.000+01:002015-08-25T10:20:00.350+01:00"Shadows cease low. Now the bright prentice Sun / As sombras cessam. Já o sol, empregado", de Fernando PessoaShadows cease low. Now the bright prentice Sun<br />
Takes down the shutters of the shop of Life,<br />
And, counter wiped, the day's toil is begun<br />
Of selling means no Hope, worker Joy's wife.<br />
<br />
But what is this to me that, beggared deep,<br />
No more than up and down the street repeat<br />
My dream of what I'd buy, were not buying step<br />
For the chilled walk of my loss-palsied feet?<br />
<br />
I see the buyers enter and come out,<br />
Stayed at the corner of occasions lost;<br />
I hear the talk, the laugh, the casual bout<br />
Of buying, and I half forget the post<br />
<br />
Of mendicant exclusion, mine eyes being<br />
Taken up more with looking that with seeing.<br />
<br />
* * *<br />
<br />
As sombras cessam. Já o sol, empregado,<br />
Puxa as persianas da loja do Viver<br />
E, limpo o balcão, começa o trabalho<br />
De vendas à Esperança, esposa do Prazer.<br />
<br />
Mas o que me resta, profundo mendigo,<br />
Senão repetir, na rua a caminhar,<br />
Meu sonho de compras, não fosse excessivo<br />
P'ra meus pés gelados, tolhido o andar.<br />
<br />
Vejo os compradores entrar e sair,<br />
Parado à esquina da perdida ocasião;<br />
Ouço a conversa, o riso, a casual crise<br />
De compras e quase esqueço a minha condição<br />
<br />
De mendiga exclusão, ficando a olhar,<br />
Menos preso ao ver do que ao contemplar.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Poemas Ingleses. Vol. II</em>; trad. Luísa Freire, ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-56375236141965411172015-08-24T12:27:00.000+01:002015-08-24T12:27:31.406+01:00"When slattern Time, worn out with toil of wearing / Quando o Tempo esquecido, gasto a lutar", de Fernando PessoaWhen slattern Time, worn out with toil of wearing,<br />With loose‑tied pack shall trudge upon my years,<br />And I shall feel that forced occasion nearing<br />That despair's self (that must live to be) fears,<br />
<br />
I, being beggared of all wealth of hope -<br />So prodigal have I to wishes been -<br />Shall with known uselessness for the coin grope <br />To pay that the hour’s ending be serene.<br />
<br />
I shall not enter the great silent cave <br />With curious ardour, or ease out of sun, <br />But all that with me I shall then still have <br />Will be a coward rage that all is done.<br />
<br />
No hope the cave's a passage shall control <br />Fear of the immediate night of the shown hole.<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
* * *</div>
<br />
Quando o Tempo esquecido, gasto a lutar,<br />Com seu fardo solto a custo vier,<br />E eu sentir a fatal hora chegar<br />E o temor (pois sem vida não é) de ser,<br />
<br />
Eu, do bem da esp'rança sendo mendigo -<br />Embora tão pródigo no desejar -<br />Buscarei a moeda, inútil já digo,<br />Com que um fim sereno possa pagar.<br />
<br />
Na funda cova silente entrarei<br />Sem estar curioso ou do sol cansado,<br />Mas tudo o que então comigo terei<br />É raiva cobarde por tudo acabado.<br />
<br />
O crer que a cova é passagem não detém<br />O medo da noite que do fundo vem.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Poemas Ingleses. Vol. II</em>; trad. Luísa Freire, ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-82791163764316874312015-08-18T15:34:00.000+01:002015-08-18T15:35:11.953+01:00Primeira estrofe do poema "Sorrow no more for the faded rose", de Fernando PessoaSorrow no more for the faded rose, <br />
Nor of the yellow lily despair. <br />
These, as we see them, are but their shows. <br />
They are elsewhere.<br />
<br />
(...)<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
* * *</div>
<br />
Não lamentes mais a rosa em decadência,<br />
Nem do lírio amarelo a desolação.<br />
Eles, como os vemos, são só aparência.<br />
Noutro lugar estão.<br />
<br />
(...)<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Poemas Ingleses. Vol. II</em>; trad. Luísa Freire, ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-31263988341073655632015-08-14T15:46:00.000+01:002015-08-14T15:46:50.960+01:00"Ao leitor", de Charles BaudelaireO erro, a mesquinhez, o pecado, a tolice,<br />Excitam-nos o corpo e ocupam-nos o espírito,<br />Mas sempre alimentamos remorsos felizes<br />Como os mendigos fazem aos seus parasitas.<br />
<br />
Com pecados teimosos e remissões frouxas,<br />As nossa confissões largamente cobramos,<br />E ao caminho da lama, contentes, voltamos,<br />Crendo com choros vis lavar as nódoas todas.<br />
<br />
Na almofada do mal está Satã Trimegisto<br />Que embala devagar a nossa alma encantada<br />E até o metal rico da nossa vontade<br />Vai sendo evaporado por esse alquimista.<br />
<br />
Os cordéis que nos puxam, prende-os o Diabo!<br />Vemos que nos atraem as coisas nojentas;<br />Sem horror, através das trevas fedorentas,<br />Ao Inferno descemos, cada dia um passo.<br />
<br />
Como um devasso pobre que devora e beija<br />O seio encarquilhado da velha rameira,<br />Colhemos, ao passar, clandestino prazer<br />Que como uma laranja moída esprememos.<br />
<br />
Como um milhão de vermes, nas nossas cabeças<br />Enche-se até fartar um povo de Demónios,<br />E quando respiramos desce-nos a Morte<br />Aos pulmões, como um rio de surdos lamentos.<br />
<br />
Se o estupro ou o veneno, o incêndio, o punhal<br />Ainda não enfeitaram com desenhos lindos<br />A banal talagarça dos nossos destinos,<br />É porque não mostrou arrojo a nossa alma.<br />
<br />
Mas no meio de chacais, panteras ou cadelas,<br />Escorpiões ou macacos, serpentes, abutres,<br />Monstros que grasnam, rosnam, rastejam e uivam,<br />Por entre os nossos vícios, galeria abjecta,<br />
<br />
Existe um bem mais feio, mais cruel, imundo!<br />Que, mesmo recusando gestos ou clamores,<br />Facilmente faria da terra um destroço<br />E num simples bocejo engoliria o mundo;<br />
<br />
É o Tédio! - Com o olhar chorando sem razão,<br />Vai fumando o cachimbo e sonha cadafalsos.<br />Conheces bem, leitor, tal monstro delicado,<br />- Hipócrita leitor, - meu igual, - meu irmão!<br />
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<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>As Flores do Mal</em>; trad. Fernando Pinto do Amaral, ed. Assírio & Alvim, 1996)</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4104391318471720802.post-76381265804492642292015-08-10T12:00:00.000+01:002015-08-10T12:00:09.748+01:00Excerto de poema "Now are no Janus' temple-doors thrown wide", de Fernando Pessoa(...)<br />
With cuirass and with pike we laid aside <br />All that made battle worth the death in it. <br />Our science‑made war‑gestures now deride <br />The great eternal things that war doth fit <br />With helm and armour. <br />With mortal pomp yet pomp. We are on death's side.<br />
(...)<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
* * *</div>
<br />
(...)<br />Com couraça e lança foi tudo arredado<br />O que digna tornava a morte pela luta.<br />O bélico gesto, em ciência transformado,<br />Desdenha do ideal eterno que se ajusta<br />À batalha com elmo e armadura.<br />Com pompa mortal, mas pompa. A morte ao lado.<br />
(...)<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">(in <em>Poemas Ingleses. Vol. II</em>; trad. Luísa Freire, ed. Planeta DeAgostini/Assírio & Alvim, 2006)</span></div>
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